Em 1912, ao ser instalada a Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda, em Olinda, Pernambuco, que pretendia ter como padrão de ensino as clássicas instituições agrícolas da Alemanha, entre as primeiras providências, certamente uma das tarefas mais difíceis, estava a escolha dos professores, ou seja, a fase de seleção do pessoal docente que viria da Alemanha para preparar os monges na difícil missão de, leigos, aprenderem para ensinar aos alunos os meandros da “Ars Veterinariae”. O abade D. Pedro Roeser consultou revistas científicas da Alemanha e da Áustria, buscando identificar um médico veterinário e um agrônomo para a escola. Dentre os candidatos que atendem, corajosamente, ao convite para se deslocarem para um país tropical, tentando vencer na vida profissional, é escolhido, e aqui chega credenciado com carta de recomendação da Universidade de Berlim, o Dr. Hermann Rehaag, professor de Veterinária.
Nascido em Pressitten, na Prússia, a 4 de março de 1884, o médico veterinário Hermann Rehaag fizera os estudos humanitários no Ginásio de Braunsberg e matriculara-se depois nas Universidades de Giesse e de Berlim, onde finalmente diplomara-se em 1911, portanto aos 27 anos. Depois de haver praticado em várias cidades, certamente na área de inspeção de carnes, fora nomeado assistente do inspetor veterinário de Marienberg e, algum tempo depois, inspetor do matadouro de Braetz, de onde se transportara para Olinda.
Os primeiros momentos de sua chegada em Olinda caracterizam-se pelo seu dinamismo como administrador e docente. Assim, duas providências da maior importância, dentre outras, são adotadas e a influência de Rehaag se faz sentir. A primeira consiste na adoção de um programa de aulas dentro da grade de matérias propostas para o curso. Dessa forma, analisando diversos programas de escolas congêneres, opta-se pelo da Universidade de Munique e o previsto pelo Governo Federal para tais escolas. A segunda providência é a redação dos Estatutos das Escolas.
As atividades de ensino de Medicina Veterinária sob o comando do Dr. Hermann Rehaag consistem na montagem de uma estrutura de ensino teórico, através de preleções em sala de aula, e em ministrar práticas de reconhecimento de peças anatômicas, cortes histológicos, identificação de parasitas, exames clínicos, técnica cirúrgica e operações, além de inspeção de carne e de leite. Parte do Dr. Rehaag a proposta de construção de um hospital veterinário e, tendo sido atendido em sua reinvindicação, é então inaugurado, em dezembro de 1914, o primeiro hospital veterinário em funcionamento no Brasil.
Em 1915, com a presença do Dr. Rehaag, entre os eventos ocorridos na então denominada Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária de São Bento, destaca-se o exame a que é submetido e aprovado o farmacêutico Dionysio Costa Meili, no dia 13 de novembro de 1915, durante a 24ª sessão da Congregação Beneditina Brasileira do Mosteiro de São Bento, recebendo o grau de médico veterinário – o primeiro médico veterinário formado e diplomado no Brasil.
Em janeiro de 1916, Rehaag muda-se para o estado de Santa Catarina, onde são destacados os seus trabalhos na área da Medicina Veterinária. Consta em registros a identificação, pela primeira vez no mundo, da transmissão da raiva em herbívoro por morcegos hematófagos. Posteriormente, entre outras atribuições, cuida de uma fazenda de criação de animais em Japuíba, Distrito de Cachoeiras de Macacu, estado do Rio de Janeiro. Mais tarde, muda-se para Minas Gerais, onde ingressa no Ministério da Agricultura, em 1º de abril 1923, ocupando o cargo de veterinário.
Em 1927, foi posto à disposição da Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Minas Gerais (ESAV), tomando posse, como professor Catedrático, em 27 de março desse ano. Cinco meses depois, em 1º de agosto, encontra-se presente na solenidade de instalação dos cursos básicos. No ano seguinte, inicia-se o curso superior de Agronomia, no qual Rehaag atua como o primeiro chefe do Departamento de Zootecnia. O Primeiro Anuário da ESAV, de 1927, traz o quadro com o horário das aulas ministradas no ensino médio e superior, com o nome dos professores e as respectivas disciplinas. Nele, Rehaag aparece como o professor que ministra a primeira aula do curso superior de Agronomia na ESAV, ocorrida às 12 horas do dia 10 de maio de 1928, assistida por nove alunos.
Como chefe de Departamento de Zootecnia, são citadas construções especializadas, instalação de um laboratório, compra de bovinos e suínos e, principalmente, a aquisição das máquinas e montagem da Leiteria, para beneficiamento do leite e fabricação de manteiga. O curso de Veterinária da ESAV só se inicia em 1932. Antes disso, Rehaag retorna ao Ministério da Agricultura, ingressando na Inspeção de Leite e derivados como veterinário do Serviço da Indústria Pastoril, e de lá é transferido para a Fazenda Modelo de Criação de Pedro Leopoldo.
Com a criação do Departamento Nacional de Produção Animal – D.N.P.A., é nomeado inspetor da nova Inspetoria Regional do Fomento da Produção Animal, ainda em Pedro Leopoldo, a 1º de março de 1933, e, por apostila, passa a inspetor em 5 de maio de 1934. Segundo sua ficha funcional de Pedro Leopoldo, casa-se em 4 de dezembro de 1948, com Thusnela Paul Rehaag. Permaneceu na Inspetoria até sua aposentadoria compulsória, aos 70 anos, em 4 de março de 1954.
Fixa residência em Belo Horizonte, onde falece a 4 de julho de 1970, aos 86 anos.
FIOCRUZ. Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda. In: Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz. Disponível em: <http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br>.
ROLFS, Peter Henry. Primeiro Anuário. Viçosa: ESAV, 1927
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MACIEL, Gilvan de Almeida; FERNANDES, Júlio de Carvalho. HERMANN REHAAG, Professor dos Professores de Medicina Veterinária. Recife: Academia Pernambucana de Medicina Veterinária, jan/2007.
MACIEL, Gilvan de Almeida. A medicina veterinária no tempo beneditino: notas para sua história. Recife: UFPE, 2012. 115p
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